Transporte
Atrás do volante, um profissional
Nos últimos oito anos, a frota pelotense cresceu quase 66%, saltando de 116.167 em 2007 para 192.726 em 2015
Crise econômica vivida pelo país está impactando diretamente na demanda por serviços de táxi (Foto: Jô Folha - DP)
A Confederação Nacional do Transporte (CNT) lançou recentemente pesquisa sobre o perfil dos taxistas brasileiros. O estudo ouviu mais de mil profissionais nas principais regiões metropolitanas do país e questionou temas como saúde, rotina de trabalho, segurança e a concorrência do Uber. A maioria dos entrevistados (94,9%) viu o número de corridas diminuir no ano passado, culpando a crise econômica e o transporte clandestino de passageiros pelo problema. Em Pelotas, a principal dificuldade apontada pela categoria está relacionada ao aumento no trânsito de veículos pela zona urbana.
Nos últimos oito anos, a frota pelotense cresceu quase 66%, saltando de 116.167 em 2007 para 192.726 em 2015. O fenômeno tem atrapalhado o ir e vir dentro da cidade, já complicado em consequência da má conservação de ruas e avenidas. É o que afirma o taxista Aurélio Moreira, 67, há 35 anos na profissão. Para ele, além dos custos elevados com manutenção e combustível para o carro - em média, são gastos R$ 1.361,06 só de combustível todo mês -, o motorista precisa lidar com o estresse gerado pelo trânsito caótico e a necessidade dos clientes de chegar rapidamente aos seus destinos.
A redução na demanda pelos serviços de táxi também foi sentida na cidade. De acordo com o taxista Claiton Malue, 44, de 2015 para cá houve diminuição de 40% na quantidade de corridas, o que fez cair o rendimento médio mensal. “Hoje está quase elas por elas. O que a gente ganha, mal dá para cobrir os gastos. Tem que trabalhar muito para conseguir um lucro melhor.” Atualmente, a renda mensal média dos taxistas brasileiros chega a R$ 2,6 mil. Grande parte está na profissão há mais de cinco anos e vem acompanhando o sobe e desce do setor. “Já houve fases em que fazia cinco corridas por dia, outras 30. Hoje faço umas 15, está mediano. Tudo depende da época.”
Predominância masculina
Um dos aspectos que chamam a atenção na pesquisa da CNT é a predominância de homens na profissão. A maioria dos entrevistados (97,3%) era homem, enquanto apenas 2,7% dos profissionais eram mulheres, realidade muito próxima à de Pelotas. Por aqui, estima-se a existência de 1.005 taxistas. Desse total, o número de mulheres não chega a dez. “É mais perigoso para a mulher. Precisa ter muita coragem, pois têm zonas na cidade que nem os homens topam ir”, conta uma profissional que preferiu não se identificar.
Segurança, aliás, é uma das peças-chaves do levantamento feito pela Confederação. Para 38,2% dos pesquisados, assaltos e roubos são grandes entraves à profissão. Mais de 28,5% já foram vítimas de assalto pelo menos uma vez nos últimos dois anos. Só o taxista Claiton Malue já foi assaltado quatro vezes em oito anos e, apesar de ter percebido uma melhora no policiamento, ainda vê a necessidade de ampliação da segurança pública como um todo.
Positivo e negativo
Questionados sobre os pontos positivos e negativos da profissão, 62,3% descartam a autonomia para definir o horário de trabalho e a flexibilidade da jornada (40,7%) como fatores de motivação. Outros 74,6% consideram a profissão perigosa, enquanto 51,4% a avaliam como desgastante. Muitos citaram o Uber como perigoso para a categoria. Dos 92,1% que já ouviram falar do serviço de transporte alternativo de passageiros, 72% disseram ser contra a legalização do sistema. Já 59,9% consideram a possibilidade de oferecer um serviço diferenciado no táxi para para competir com o Uber. A burocracia e o valor exigido para obter a permissão para se tornar taxista também foram apontadas pelos profissionais como um fator negativo associado à profissão.
Outros dados
A pesquisa foi realizada entre os dias 4 e 14 de novembro de 2015 em locais de grande fluxo de taxistas, como regiões centrais, aeroportos, estações rodoviárias e de metrô. O estudo identificou ainda a idade média do taxista brasileiro - 47 anos - e grau de estudos da categoria: grande parte parou de estudar no Ensino Médio. Quando o assunto é renda, praticamente metade dos taxistas tem faturamento bruto diário de R$ 100,00 a R$ 200,00. Com relação à carga de trabalho, quase 50% dos entrevistados afirmou trabalhar, em média, 12 horas por dia.
Tecnologia a favor
Apesar de satisfeitos com a ausência do aplicativo Uber em Pelotas, muitos taxistas já se renderam à tecnologia para facilitar a interação com os clientes. Hoje, com um toque na tela do smartphone é possível chamar um dos táxis de Pelotas que trabalham com um dos diversos sistemas desenvolvidos para o serviço. O taxista Ailton Barbosa Porciúncula foi um dos primeiros a apostar nesse tipo de APP e não se arrepende. Para ele, a ferramenta é simples de mexer e tem sido bem aceita pelos passageiros.
Regularização
Regulamentada em agosto de 2011, a profissão de taxista é reconhecida em todo o território nacional. Para exercer a profissão, o motorista precisa de certificação específica e veículo de acordo com as normas da autoridade de trânsito. Os profissionais, mesmo os autônomos, têm direito a inscrição no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e carteira de trabalho. A categoria também tem direito a piso remuneratório ajustado entre os sindicatos dos taxistas.
Licitação
No começo da semana o prefeito Eduardo Leite (PSDB) assinou o decreto 5.908, que disciplina as condições para a exploração do serviço de transporte individual de passageiros em táxis no município. O documento antecede a abertura do processo licitatório para novos prefixos de táxi na cidade e estabelece 15 anos de serviço. O Poder Público estima lançar, nos próximos 30 dias, o edital de licitação. Além das 335 placas existentes - desse total, dez foram invalidadas pelo Ministério Público e precisarão ser regularizadas -, outras 60 (50 novas) serão liberadas para circulação.
De acordo com o diretor de Transportes da Secretaria de Transportes e Trânsito, Paulo Osório, no momento o Executivo está finalizando a redação do edital, após esse ter sido readequado à legislação vigente. O processo preocupa o Sindicato dos Taxistas de Pelotas. Para a entidade, mais placas são desnecessárias, pois as existentes dariam conta da demanda atual. Além disso, se a prefeitura levar o processo adiante será fundamental avaliar os locais onde os novos permissionários irão atuar.
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